Desde que era aluno da Graduação do curso de Medicina da Faculdade de Medicina da USP, o Dr. Roberto Battistella sempre foi atraído pela Neurologia e pela Oftalmologia. Mas, no final do curso, a Oftalmologia brilhou mais.
Ainda na residência médica de Oftalmologia, escolheu como opção para seu terceiro ano de residência o aprofundamento em neuro-oftalmologia, conseguindo assim unir as especialidades médicas que mais gostava. Desde então, estuda e trabalha dentro da subespecialidade, dedicando grande parte do seu tempo à assistência médica e ao ensino da neuro-oftalmologia.
Muito em virtude do vínculo com a Universidade de São Paulo (onde é médico assistente contratado), tem ativa participação no ensino e na formação de residentes de Oftalmologia e estagiários de Neuro-Oftalmologia, e ministra aulas de Neuro-Oftalmologia em cursos, congressos e simpósios. É frequentemente convidado a participar de sessões de discussão de casos clínicos desafiadores, em múltiplos eventos acadêmicos.
E tão importante quanto ensinar, é também aprender com o ensino e compartilhar o conhecimento e a experiência adquiridos. Ensinar é um presente – forte, único e influente para os alunos. Esse presente tem o valor do legado, pois os destinatários do aprendizado passam a aplicar seus conhecimentos em seu papel de cuidar dos outros. Ao mesmo tempo, os alunos são influenciados e transformados nos próprios educadores, que perpetuam o ciclo de exuberância e amor por aprender e ensinar.
Na virada do século 20, não havia livro didático em língua inglesa que abordasse o terreno em que as especialidades de Oftalmologia e Neurologia se encontravam.
Em 1906, para reunir sob uma mesma capa assuntos ligados a ambas as especialidades, os Doutores William Posey (Professor de Oftalmologia na Filadélfia) e William Spiller (Professor de Neurologia na Pensilvânia) editaram o primeiro livro com assuntos sobre oftalmo-neurologia, intitulado “O olho e o sistema nervoso – suas relações diagnósticas”.
Mas foi o Dr. Frank B. Walsh que, mais adiante, desenvolveu e popularizou o campo da neuro-oftalmologia, tornando-se o pioneiro na especialidade. Médico canadense formado em 1921, o Dr. Walsh exerceu medicina geral e cirurgia e, posteriormente, interessou-se por neuro-oftalmologia.
Em 1930, ele ingressou no Wilmer Institute, da Universidade Johns Hopkins, e foi imediatamente atraído por neurocirurgia, neurologia e pelos aspectos neurológicos da oftalmologia. Nas manhãs de sábado, o Dr. Walsh organizava conferências sobre neuro-oftalmologia que atraiam especialistas em neurologia, neurocirurgia, oftalmologia e medicina geral. Essas conferências tornaram-se lendárias, com apresentações de casos difíceis e desafiadores que eram resolvidos com todo o “brain power” das equipes do Hospital Johns Hopkins.
Por mais de 10 anos, o Dr. Walsh reuniu material, e em 1947 publicou o primeiro livro didático sobre neuro-oftalmologia: “Clinical Neuro-Ophthalmology''. O livro tornou-se a “bíblia” da neuro-oftalmologia, e foi atualizado ao longo dos anos por gerações de seus alunos. Sua última edição tem 3 volumes e mais de 3.600 páginas, e aborda todos os campos da especialidade.
O Dr. William F. Hoyt foi o aluno mais brilhante do Dr. Walsh. Falecido em 2019, o Dr. Hoyt é considerado o pináculo da neuro-oftalmologia moderna. Em 1956, o Dr. Hoyt foi designado residente para acompanhar o Dr. Walsh em suas palestras e eventos no campus da Universidade Johns Hopkins. Em seguida, fez estágio de neuro-oftalmologia na Universidade de Viena com o Dr. Frederick Cordes, mas retornou a Baltimore para um segundo estágio com o Dr. Walsh.
Ele foi treinado e trabalhou muito com o Dr. Walsh. As interações com o Dr. Walsh marcaram profundamente sua carreira, tendo sido convidado a escrever a monumental terceira edição do livro “Clinical Neuro-Ophthalmology”, em 1967.
Como professor da Universidade da Califórnia, o Dr. Hoyt publicou mais de 274 artigos científicos, vários deles listados como alguns dos mais importantes já publicados no campo da oftalmologia. Contudo, o maior orgulho do Dr. Hoyt foi ter treinado muitos médicos: foram 71 estagiários, entre bolsistas americanos e estrangeiros. Esses alunos usaram seus conhecimentos para tratar um número incontável de pacientes em todo o mundo e criaram seus próprios programas de treinamento, expandindo o impacto e a influência do Dr. Hoyt.
Em 1912 o Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho fundou a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. No começo de sua trajetória, a faculdade foi instalada nas dependências da Escola Politécnica. As aulas práticas de clínica e cirurgia eram ministradas na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Seu prédio atual foi inaugurado em 1931, e em 1934 a faculdade foi incorporada à recém-criada Universidade de São Paulo, passando a ter a atual designação – FMUSP (Faculdade de Medicina da USP). Em homenagem ao ilustre fundador, a FMUSP ainda hoje é chamada de "Casa de Arnaldo" por seus alunos e ex-alunos.
Ainda no ano de 1916, o Dr. Arnaldo prosseguia em seus esforços para consolidar a nova Faculdade de Medicina, tentando aglutinar renomados mestres de diferentes áreas médicas. Então, chamou sua atenção um jovem médico maranhense de nome João Britto, que havia feito seus estudos de especialização em oftalmologia junto aos grandes mestres europeus, nas Clínicas de Viena e Berlim.
J. Britto, como ficaria conhecido, aceitou o convite de Arnaldo e assumiu como primeiro professor da Cadeira de Oftalmologia. Ele dava grande valor ao ensino e suas exposições primavam pelo didatismo e conhecimento. Iniciavam-se, assim, as primeiras atividades do que viria a ser a Clínica Oftalmológica da USP, ainda no espaço da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em 1916.
Em 1947, com o término das obras do prédio do Instituto Central do Hospital das Clínicas de São Paulo, a Oftalmologia da USP deixou a Santa Casa.
A prática da neuro-oftalmologia na Clínica Oftalmológica HCFMUSP começou na década de 1960 e, inicialmente, os pacientes eram atendidos por professores com interesses em outras áreas da oftalmologia.
Em 1981, a neuro-oftalmologia foi transformada em serviço especializado sob a liderança do Prof. Carlos Alberto Rodrigues Alves e a inestimável contribuição da Dra. Maria Kiyoko Oyamada. Em 1984, após completar seu estágio de neuro-oftalmologia com o Dr. William F. Hoyt (São Francisco), o Dr. Mário Luiz Monteiro passou a desenvolver um grande trabalho em neuro-oftalmologia no HCFMUSP, e mais tarde sucedeu o Prof. Carlos Alberto na liderança do serviço.
Em 1997, após sua formação médica na FMUSP e especialização na Clínica Oftalmológica HCFMUSP, o Dr. Roberto Battistella passou a atuar como médico colaborador do Setor de Neuro-Oftalmologia da USP.
O constante trabalho na produção e propagação do conhecimento tornou a Oftalmologia da USP uma das instituições universitárias mais importantes da Oftalmologia Brasileira e Latino-americana. A Neuro-Oftalmologia da USP atualmente é o mais importante setor de ensino da subespecialidade no Brasil.