Fotofobia
Imagem meramente ilustrativa (Banco de imagens: Shutterstock)

A sensibilidade à luz é um sintoma comum que pode ter diversas causas. Conheça algumas delas e saiba como evitar o problema

A fotofobia é um sintoma caracterizado por intolerância anormal à luz (ou seja, um distúrbio sensorial provocado pela luz). A fotofobia está associada a várias condições oftalmológicas e neurológicas. Pode ser provocada pela exposição à luz natural (como a do sol) ou artificial (como a proveniente de uma lâmpada ou de telas de computadores e celulares).

Evidências recentes indicam que as células ganglionares da retina intrinsecamente fotossensíveis (abreviadas por IPRGC) desempenham um papel fundamental no mecanismo da fotofobia.

Durante anos, pesquisadores levantaram hipóteses sobre a existência de um “transdutor” de fotofobia no olho. Uma luz brilhante, como olhar diretamente para o sol, provocará uma sensação dolorosa em quase todos, quase certamente uma resposta protetora que provavelmente é compartilhada por todos os seres vertebrados. A dor induzida pela luz nos desencoraja a olhar para objetos intensamente brilhantes que podem prejudicar nossa retina.

Até recentemente, não estava claro como a luz poderia ser transformada em um estímulo doloroso. O transdutor parece ser a célula ganglionar da retina intrinsecamente fotossensível (IPRGC), que contém a célula de melanopsina, um fotopigmento. Essas células são “intrinsecamente fotossensíveis” justamente por conterem esse fotopigmento, o que significa que podem ser estimuladas pela luz mesmo na ausência de estímulos provenientes dos fotorreceptores tradicionais, os bastonetes e cones.

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Formas mais comuns de apresentação clínica da fotofobia

A fotofobia é uma sensibilidade anormal à luz, mas é incomum que um paciente apresente essa queixa principal. Quer dizer, é pouco comum que ele se apresente ao médico e diga: “Meu problema é fotofobia”. Em vez disso, na maioria das vezes, os pacientes podem relatar que são sensíveis à luz em situações em que a maioria das pessoas não é.

Alguns pacientes reconhecerão que são especialmente sensíveis à iluminação artificial interna. O paciente perspicaz reconhecerá que é especificamente sensível à luz interna artificial não incandescente. Os monitores de computador são uma fonte comum de desconforto para o paciente fotofóbico. Curiosamente, muitos pacientes tendem a ter menos problemas com a luz natural do sol, a menos que sejam confrontados com o brilho excessivo que vem de superfícies altamente reflexivas.

Muitos pacientes com queixa principal de fotofobia terão um exame oftalmológico normal, mas ainda há muitos outros sinais a serem observados pelo médico. Não é incomum que pacientes fotofóbicos usem óculos escuros na sala de espera. Às vezes, o paciente pode precisar pedir para que sejam apagadas as luzes da sala de espera ou da sala de exame, o que pode indicar que ele é fotofóbico.

Causas da fotofobia

Várias doenças oftalmológicas e neurológicas estão associadas à fotofobia, mas olhos secos e enxaquecas são as condições mais comuns.

De modo simplificado, as causas de fotofobia podem ser agrupadas em 4 categorias:

  1. Doenças oftalmológicas (por exemplo, doenças do segmento anterior, como olho seco, irite e blefarite, ou doenças do segmento posterior, como uveítes posteriores, distrofias retinianas, retinose pigmentar e distrofias de cones);
  2. Doenças neurológicas e neuro-oftalmológicas (por exemplo, cefaleias primárias — como a enxaqueca —, blefaroespasmo, paralisia supranuclear progressiva, lesão cerebral traumática, problemas no nervo óptico e nas vias ópticas e anisocorias);
  3. Distúrbios psiquiátricos (por exemplo, depressão, distúrbios de ansiedade, agorafobia);
  4. Fotofobia induzida por drogas (por exemplo, barbitúricos, benzodiazepínicos, lítio e haloperidol, simpatomiméticos e anticolinérgicos).

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A seguir, confira mais detalhes sobre algumas dessas causas.

Olho seco

O olho seco, uma das condições mais comumente encontradas na prática da oftalmologia, é a causa oftalmológica mais comum de fotofobia. A maioria dos pacientes com olho seco queixa-se de olhos com coceira, ressecamento, ardência e queimação; no entanto, o olho seco pode ser mais difícil de diagnosticar quando os pacientes apresentam sintomas atípicos, como somente fotofobia.

Ferramentas de exames úteis incluem uma avaliação cuidadosa do filme lacrimal, tempo de ruptura do filme lacrimal, coloração da superfície ocular com corantes especiais e teste de Schirmer (para verificar a quantidade de produção lacrimal). Alguns pacientes terão testes normais para olho seco, mas podem apresentar sintomas de olho seco. Em algumas condições neurológicas, como paralisia supranuclear progressiva e doença de Parkinson, a síndrome do olho seco grave é observada em quase todos os pacientes afetados. Um subconjunto desses pacientes também pode se queixar de fotofobia.

Olhos secos crônicos podem levar à neuropatia da córnea (disfunção dos nervos sensitivos presentes na córnea), uma condição também frequentemente associada à fotofobia, além de dor ocular. Algumas outras causas de neuropatia da córnea incluem infecções (como o herpes), neuropatia pelo diabetes e uso de quimioterapia. Recentemente, pesquisadores descobriram que a enxaqueca crônica também está associada à redução da densidade das fibras nervosas da córnea e aos sintomas de olho seco.

Enxaqueca

A enxaqueca é o distúrbio neurológico mais comum que causa fotofobia, sendo esta considerada, inclusive, um dos critérios diagnósticos para enxaqueca, de acordo com a Classificação Internacional de Cefaleias. A fotofobia afeta até 80% dos pacientes com enxaqueca, e eles podem apresentá-la durante e entre os ataques de enxaqueca.

A luz também pode desencadear crises de enxaqueca em 30 a 60% dos pacientes. Há diferentes tipos de luz que são conhecidos por provocar enxaquecas; entre eles: luz solar, cintilação de filmes e programas televisivos, luzes fluorescentes, luzes de led, luzes provenientes de telas como as de computadores e celulares.

Doenças oftalmológicas

O sintoma de fotofobia quase sempre ocorre em um olho que sofre de algum tipo de inflamação ocular ou passou por algum tipo de trauma ou cirurgia recente. A dor e a fotofobia associadas à condição causadora tendem a melhorar após o tratamento. Ainda assim, em alguns casos esses sintomas podem persistir mesmo após os sinais objetivos de lesão ou inflamação ocular terem diminuído.

Anisocoria

Anisocorias podem se associar à fotofobia. Nesse caso, o sintoma de fotofobia é sentido no olho cuja pupila com disfunção é aquela que é maior (dilatada) e encontra dificuldade de contrair com a luz.

Uso de drogas e colírios para a dilatação pupilar

O uso de colírios para dilatação das pupilas (necessários em muitos exames oftalmológicos), além de embaçamento da visão, pode provocar fotofobia.

Alguns remédios de uso comum também podem conter substâncias que podem levar à dilatação das pupilas e causar fotofobia, como: medicações para cólica que contenham escopolamina, descongestionantes sistêmicos que contenham fenilefrina e pseudoefedrina e colírios usados para “branqueamento” dos olhos contendo nafazolina e fenilefrina. Também, entre outras, drogas como cocaína e anfetaminas, além de medicações para tratamento de doenças respiratórias, neurológicas e psiquiátricas, podem deixar as pupilas mais dilatadas e provocar fotofobia.

Doenças psiquiátricas

A fotofobia já foi relatada em pacientes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, pânico-agorafobia e depressão. Ansiedade e depressão são comorbidades frequentes na enxaqueca; e alguns desses pacientes, é claro, também terão fotofobia. A modificação comportamental e a psicoterapia podem melhorar os sintomas fotofóbicos em alguns desses pacientes.

Doenças neurológicas e neuro-oftalmológicas

A fotofobia pode ser um sintoma associado a diferentes doenças neurológicas e neuro-oftalmológicas, como:

  • Doenças do quiasma óptico (como tumores da hipófise);
  • Doenças da via óptica mais central (como doenças desmielinizantes e deficiência visual cortical);
  • Doenças neurológicas (como enxaqueca, paralisia supranuclear progressiva, meningite, hemorragias intracranianas e lesões do tálamo).

Concussão, síndrome pós-concussão e lesão cerebral traumática

A fotofobia é o segundo sintoma mais prevalente, após a cefaleia, relatada por pacientes com síndrome pós-concussão ou traumatismo cranioencefálico. Estudos sugerem que a fotofobia pode afetar mais de 40% dos pacientes pós-concussão e 50% daqueles que sofreram uma lesão cerebral traumática. Embora a fotofobia possa se dissipar dentro de algumas semanas após uma concussão, ela pode durar vários meses ou indefinidamente, dependendo de vários fatores, como gravidade do trauma cerebral, existência de lesões anteriores ou tratamento inadequado.

Como é diagnosticada a sensibilidade nos olhos?

A fotofobia é diagnosticada por meio dos sintomas relatados pelo paciente. Como qualquer outro sintoma, ela requer, de forma cuidadosa, a avaliação da história do paciente e a realização de exame clínico.

Exames oftalmológicos, neuro-oftalmológicos ou neurológicos apropriados podem identificar se existe alguma condição nos olhos ou alguma alteração neurológica que possa ser a causa da sensibilidade à luz.

Como tratar essa condição?

O tratamento da fotofobia baseia-se no tratamento da etiologia subjacente da sensibilidade à luz. Fazer o diagnóstico correto é crucial, pois abordar a doença subjacente é a pedra angular do tratamento.

Opções gerais de alívio para fotofobia podem incluir:

  • Usar chapéu ou boné com abas largas em locais ensolarados;
  • Usar óculos de sol polarizados com bloqueadores de UVA/UVB para uso ao ar livre;
  • Reduzir o tempo de uso de tela de eletrônicos e fazer pausas;
  • Instalar aplicativos de filtro de tela para celular e computador;
  • Substituir luminárias quebradas ou piscando;
  • Remover lâmpadas fluorescentes;
  • Utilizar luz quente ou natural em casa ou no escritório;
  • Usar colírios para lubrificação ocular (lágrimas artificiais) prescritos pelo médico.

Também é importante fazer consultas regulares ao oftalmologista, para que ele avalie a saúde ocular e assim evite o surgimento de algum quadro negativo.

Neuro-oftalmologista para fotofobia

A fotofobia está associada a várias condições oftalmológicas e neurológicas. Tais doenças podem necessitar de uma abordagem multidisciplinar, ou seja, do envolvimento de diversas especialidades médicas.

O médico especialista em neuro-oftalmologia está capacitado para diagnosticar, investigar, fazer as orientações terapêuticas adequadas e indicar as avaliações médicas que se fizerem necessárias aos pacientes com fotofobia. Esse profissional, que diagnostica e trata as doenças oculares que têm origem na visão, bem como aquelas relacionadas ao sistema nervoso, está apto a fazer a abordagem e o acompanhamento adequado dos problemas que causam fotofobia.

Se você apresenta fotofobia e precisa de uma avaliação especializada em neuro-oftalmologia, agende uma consulta com o Dr. Roberto Battistella.

Fontes:

Academia Americana de Oftalmologia

Manual MSD

ScienceDirect

Dr. Roberto Battistella